Capítulo 1
Seja bem-vindo(a) ao mundo de Avalon.
Aqui, memórias esquecidas têm voz, monstros carregam sentimentos, e até a magia tem segredos que preferia esconder.
Esta não é só uma história de Fantasia, reinos e heróis improváveis — é uma jornada sobre quem somos quando o mundo nos vira do avesso.
Se você chegou até aqui… prepare-se.
Respire fundo.
Deixe o mundo lá fora por um instante.
A porta se abriu.
A aventura vai começar.
O Despertar em Avalon
Quando Grumak abriu os olhos, tudo estava errado.
O chão não era piso. Era grama alta, dourada, viva — se movia com o vento como se tivesse alma, como se respirasse. Ele se levantou devagar, sentindo a relva roçar os joelhos, o ar entrando nos pulmões como um sopro doce. Era limpo. Tão limpo que parecia impossível.
No céu... dois sóis. Dois.
Brilhavam intensos entre nuvens azuladas, pintando o mundo com cores irreais: tons quentes de dourado, púrpura, reflexos que se espalhavam pela paisagem como se a realidade tivesse sido mergulhada num sonho de outro mundo.
Mas nada disso importava.
O que realmente deixou Grumak em silêncio foi… seu próprio corpo.
As mãos. Eram enormes. Verdes. Os dedos largos, a pele grossa, os músculos saltando com um simples movimento. Havia peso, força, instinto. Um corpo estranho… mas que parecia saber exatamente como existir.
— O que…? — murmurou, estranhando até a própria voz. Grave. Arranhada. Quase selvagem.
Um som familiar o puxou de volta.
— P-Pai?! É você?
Virou-se com um estalo, coração batendo forte. E ali, de pé como se tivesse saído direto de uma ilustração fantástica, estava um jovem felino — listrado, esguio, olhos âmbar. O pelo branco contrastava com o ambiente, como se ele próprio fosse uma nota dissonante naquele mundo vibrante.
— Shiro...? — Grumak reconheceu a voz no mesmo instante. Aquilo não era um sonho. Era real. Era impossível. Era o filho dele.
Shiro cambaleou, ainda processando o próprio corpo, tocando o rosto felino com as pontas das garras recém-descobertas.
— Eu… o que aconteceu? Onde a gente tá?
Antes que Grumak pudesse responder, outra figura se ergueu do chão.
— Tá de sacanagem... isso é um pesadelo ou a melhor imersão da história?
Era Helster. Ou pelo menos a versão javali antropomórfica dele, com presas, patas e um olhar tão incrédulo quanto o de todos ali.
Os três ficaram em silêncio. Não havia resposta que fizesse sentido. Estavam... ali. Juntos. Mas não mais no mundo que conheciam.
Ao longe, muralhas brancas cercavam uma cidade viva, pulsante. Torres elevadas tocavam o céu, bandeiras tremulavam com brasões desconhecidos. O som de vida urbana era inegável — gente falando, animais, rodas de carroça.
Uma placa solitária os encarava da beira da estrada:
Karmon – Cidade dos Humanos.
E foi aí que Grumak sentiu: aquela não era só uma simulação. Não era jogo. Não era sonho.
— Isso devia ser Avalon… — disse baixo. — Só um jogo...
Mas não havia menu. Nem HUD. Nem opção de logout. Só o cheiro de terra, o calor do sol e o peso do próprio coração.
— Isso... tá real demais. — Sussurrou Shiro, tocando o peito como quem tenta acordar.
— Porque talvez... seja real. — respondeu Grumak, a voz mais firme do que se sentia por dentro.
Eles se olharam. Nenhum deles disse em voz alta, mas o sentimento era mútuo: o jogo tinha deixado de ser só um jogo.
Eles estavam dentro de Avalon. E não era só uma experiência. Era uma nova vida.
Caminharam pela estrada de terra batida em direção a Karmon. Cada passo era uma confirmação do absurdo: o chão rangia sob os pés, o vento soprava com gosto, o cheiro das barracas de feira invadia as narinas com especiarias picantes e doces. Um mundo inteiro acontecia à volta deles, e tudo parecia… verdadeiro.
Mas com a cidade, veio também o estranhamento.
Conforme avançavam pelas ruas, olhos os seguiam. Não os de NPCs. Olhos reais. Vivos. Desconfiados. Afastavam-se deles como se fossem ameaça.
— Por que tão olhando assim? — sussurrou Shiro, se encolhendo.
— Porque essa cidade é humana. — disse Grumak. — E nós, meu filho… não parecemos nem um pouco.
Helster soltou um riso sem graça, ajeitando o machado que veio com ele.
— Isso aqui parece mais missão de rejeição racial do que cidade inicial…
— Vamos manter a calma. Precisamos entender onde estamos. E sobreviver.
Foi então que uma figura cortou a multidão, vindo direto em sua direção.
Alta. Postura firme. Cabelos prateados reluzindo sob o sol e olhos verdes afiados como lâminas. Ela parecia não ter medo deles. Muito pelo contrário — sorria.
— Bem-vindos, viajantes. — disse com a voz firme. — Sou Elizabeth, líder da Guilda Aventureira de Karmon. Posso saber o que os traz à minha cidade?
Grumak hesitou. Mas havia algo nela — não era ameaça. Era… curiosidade.
— Chegamos agora. Não sabemos como ou por quê. Só que estamos aqui.
Elizabeth assentiu como quem já ouviu aquilo antes.
— Avalon recebe muitos assim. Alguns acham que vieram para virar heróis. Outros, para fugir de algo. Mas vou ser direta: esse mundo é tão cruel quanto belo. Um passo em falso e ele engole você.
— Isso ainda é um jogo? — perguntou Shiro.
Elizabeth ergueu uma sobrancelha.
— Jogo?
Helster balançou a cabeça.
— Pronto. Nem tutorial essa porra tem.
Ela não riu. Mas também não desmentiu. Apenas virou-se.
— Venham. Vocês precisam saber onde estão pisando.
Seguiram-na pelas ruelas apertadas da cidade. Vendedores gritavam, crianças corriam, bandeiras com símbolos desconhecidos balançavam ao vento. Mas também havia pichações. “Lembrem-se de Zaroth”, dizia uma em tinta vermelha. Muros rachados. Olhares de desconfiança.
Elizabeth explicou, sem rodeios: guerras. Humanos contra semi-humanos. Promessas quebradas. Sangue derramado. Karmon era o último bastião de paz — e ainda assim, uma paz por um fio.
— Vocês são diferentes. Isso assusta. Mas também... pode inspirar.
Diante da Guilda Aventureira — uma construção de pedra e madeira decorada com estandartes e brasões —, ela parou.
— Aqui, valor é o que define quem você é. Mostrem que não são monstros… e talvez conquistem espaço.
Dentro da guilda, o barulho de vozes, canecas batendo e histórias sendo contadas preencheu o salão. Mas quando Grumak, Shiro e Helster entraram, o som cessou por um instante.
Todos olharam. Julgaram.
Elizabeth os levou ao balcão.
— Este é Garven. Mestre de registros.
Um homem gorducho com barba trançada os encarou como quem avalia mercadoria.
— Semi-humanos? Três de uma vez? Vieram causar ou trabalhar?
— Queremos ajudar. Entender esse mundo.
— Então trabalhem. Missão simples: bandidos roubaram suprimentos. Recuperem. Voltem vivos. Talvez eu considere confiar em vocês.
Elizabeth pegou o pergaminho da missão.
— Eu os acompanharei até parte do caminho.
Naquela noite, no quarto apertado da guilda, os três se sentaram em silêncio.
Shiro olhava pela janela.
— A gente clicou num botão. E agora... olha onde estamos.
— Um orc, um felino e um javali entram numa cidade hostil… parece piada. — disse Helster.
— Mas não é. — completou Grumak. — Avalon é real. E estamos dentro dela.
Shiro se virou.
— Pai… obrigado. Por vir junto. Se você tá aqui, eu me sinto… menos sozinho.
— Sempre estarei com você, Hiro. Aqui ou em qualquer mundo.
Na manhã seguinte, encontraram os três companheiros temporários: Lyra, a arqueira de olhos atentos; Kellen, o mago nervoso; e Ravi, o espadachim silencioso.
Elizabeth os conduziu até a floresta de Malthar, e lá, parou.
— Aqui nos separamos. Lembrem-se: confiem uns nos outros. Esse mundo cobra caro por erros.
Ela olhou para Grumak.
— Você tem algo antigo no olhar. Cuide deles.
— Eu cuidarei.
A floresta era úmida, densa, abafada. Cada passo rangia como um alerta. Encontraram a caverna — escura, fedendo a bebida e metal.
E então a emboscada caiu.
— AGORA!
Bandidos saíram das sombras. Grumak socava como uma avalanche. Shiro deslizava como sombra, preciso. Helster girava o machado com fúria. Mas eram muitos.
— Formem um círculo! — gritou Lyra.
Kellen tentou conjurar, mas uma flecha o atingiu. Ravi caiu em silêncio. Lyra caiu lutando, uma flecha no pescoço, uma adaga no peito.
— LYRA! — gritou Shiro.
— Não dá pra salvá-los! — rugiu Grumak. — Precisamos sair!
Carregaram Kellen. Abriram caminho. Gritaram. Correram.
E então, a luz. A saída.
Emergiram suados, feridos, manchados de sangue.
Silêncio. Perda.
— Eles... estavam com a gente. — disse Shiro.
— E morreram. — Completou Helster. — Essa missão… foi uma armadilha.
— Ou só o preço de viver nesse mundo. — Murmurou Grumak.
Voltaram para Karmon, exaustos, sujos, silenciosos.
Elizabeth os havia recebido com esperança.
Agora, voltavam com luto.
E Avalon — esse mundo magnífico, cruel e mágico — começava a mostrar seus dentes.
Obrigado por ter lido até aqui.
Cada visualização, cada comentário, cada segundo que você dedica a essa história… significa o mundo pra mim.
Avalon é um mundo vasto, cheio de mistérios — e sua presença aqui o torna ainda mais vivo.
Se gostou do capítulo, não esqueça de deixar seu apoio.
E se algo te tocou, te fez rir, pensar ou chorar… me conta. Vou adorar saber.
A jornada continua, e você faz parte dela.
Até o próximo capítulo —
Com gratidão, e muita Fantasia.
SpiderBH