Capítulo 68
"···Com licença."
Quando Ryosaku bateu à porta de correr de madeira enquanto chamava a pessoa para dentro de casa, pensou ter ouvido uma resposta fraca vinda do interior.
No entanto, mesmo depois de esperar um pouco, a pessoa que deveria estar lá dentro não saiu.
Durante esse tempo, procurou as quatro etiquetas de madeira que estavam penduradas na parede da frente e continham os nomes das quatro pessoas que viviam naquela casa.
...Mas não as encontrou em lado nenhum.
Enquanto Ryosaku o fazia, uma figura aproximou-se de dentro da casa, bloqueando a luz.
Através do vidro fosco, pôde ver uma pequena figura a trocar de calçado para atividades ao ar livre, à entrada.
A pessoa que abriu a porta era... uma mulher.
Era uma mulher muito velha, de cabelos brancos.
"···Quem é você?"
A mulher que respondeu com uma voz elegante era uma senhora idosa de rosto enrugado, mas era uma senhora melancólica que fazia pensar que devia ter sido realmente bonita quando era mais nova.
Parece estar cautelosa com a visita repentina à noite.
Pensou Ryosaku.
(Essa pessoa deve ser a avó de Mieko... Setsu Yamada. De Tokiko-san... por outras palavras, a mãe da mãe de Mieko.)
"...Boa noite, desculpem por interromper de repente. O meu nome é Ryosaku Takada. Sou amiga da Mieko Minegishi, que já cá esteve..."
"Hã...? Da Mieko...?"
Assim que Ryosaku mencionou o nome de Mieko, a expressão da senhora suavizou-se.
"Percebo. És amiga da Mieko... Então, qual é a tua relação com a Mieko?"
"Sim, na verdade, eu era veterana quando a Mieko-san estudava na Escola Primária K, e embora tivéssemos uma grande diferença de idades, eu dava-me muito bem com a Mieko-san."
"Bem... é isso mesmo. Tu... deves ter cuidado muito bem da Mieko."
"É... é."
Nesse momento, a primeira coisa que lhe veio à cabeça, vinda da memória de Ryosaku, foi aquele dia... a última vez que viu Mieko, aquele dia, o momento daquele ato pecaminoso em que a empurrou friamente, e ainda mais... os olhos vermelhos e ardentes de Mieko fitavam-no.
A memória sombria daquele momento voltou de repente... e ele não podia afirmar com confiança e clareza que "amava" Mieko, pelo que acabou por dar uma resposta vaga.
"Ah... hum, tu és a avó da Mieko-san, não, és a avó dela, certo...?"
"Sim, é isso mesmo. O meu nome é Setsu Yamada. Muito prazer, Ryosaku-san. A Mieko é a minha neta gira. E, claro, a sua irmã Kaori também. Está melhor do que quando estava aqui. Também cresceu bastante. Era uma menina pequena e gira naquela altura, mas a sua aparência mudou completamente desde então. Sempre estive com o marido da Tokiko... ou seja, o pai da Mieko. Vivi com o Sr. Isao, mas... Aparentemente, não gosto de viver numa cidade perto de Tóquio... no outro dia, comecei a viver aqui na minha antiga casa."
"Já agora, Setsu-san, onde está a Mieko-san agora...?"
"Ah. Não teve notícias da Mieko...? É a Cidade K, Câmara Municipal de Saitama. Veja bem, é uma cidade famosa pelo fabrico de peças fundidas há muito tempo. O Sr. Isao é funcionário da Hokkaido Beer Co., Ltd. de lá. Neste momento, Mieko e os outros estão a viver na residência oficial... no dormitório dos funcionários."
Depois de ouvir tudo isto, Ryosaku não pôde deixar de querer ver o rosto de Mieko... aquela figura adorável.
Ouvi dizer que ela cresceu bastante, mas pergunto-me como cresceu...?
Então Ryosaku decidiu perguntar à velha.
"Setsu-san... tenho um pedido a fazer..."
"Ei, Ryosaku-san. Diz-me alguma coisa."
"A foto da Mieko-san... talvez tenhas uma...? De quando ela estava aqui."
"É. Acho que está algures lá dentro. Espera, vou procurar."
Depois de dizer isto, Setsu-san desapareceu nas traseiras da casa.
Enquanto ela trazia as fotos, Ryosaku deu uma vista de olhos casual ao interior da casa.
Ao entrar pela porta de correr com vidro fosco, verá o piso de betão da entrada estreita onde Ryosaku se encontra atualmente.
No chão de terra batida está a caixa vazia que continha a panela elétrica de arroz.
"Uma panela elétrica de arroz mágica que impede o arroz de agarrar!" estava escrito nela.
À sua esquerda, podia ver uma sala estreita de estilo japonês, com cerca de seis tatamis de tamanho, e à sua direita, uma cozinha ainda mais estreita.
Havia uma passagem de madeira no meio... com uma casa de banho nas traseiras, e Ryosaku conseguia vislumbrar o que parecia ser uma sala de estudo onde Mieko e as suas irmãs costumavam passar o tempo.
Finalmente, Setsu-san voltou da sala das traseiras, entregou um envelope a Ryosaku e disse:
"...A fotografia deste envelope é a única fotografia que tenho da minha preciosa Mieko.
Quanto às fotos da Mieko dessa época... na verdade, não restam muitas na nossa família. Mas Ryosaku-san, tu eras um grande amigo da Mieko, certo?"
"Sim... sim."
"Excelente. Bem, eu dou-to. Em troca, por favor, cuida bem dela. Da próxima vez que vir o Isao-san e os outros, vou comprar-lhes uma fotografia diferente."
"Obrigada, Setsu-san! Eu... não sei como te agradecer..."
"Está bem. Além disso, tenho de ir a uma reunião no centro comunitário. Esta reunião comunitária é realmente problemática. Vou ligar à Mieko e contar-lhe sobre ti mais tarde." Por isso, por favor, leve esta foto consigo hoje como lembrança. Por favor, volte mais tarde."
"Sim. Irei certamente visitá-la. Muito obrigada!"
"Por favor, tenha cuidado ao regressar a casa. Agora então..."
Ryosaku parecia um sonho.
(Já passou algum tempo desde a última vez que vi a Mieko-chan.
Além disso, o Setsu-san até vai entrar em contacto com a Mieko-chan, certo? Valeu a pena ter paciência e esperar. ...tenho a certeza que a Mieko-chan está ansiosa por me conhecer...!)
Cheio de esperança, Ryosaku corre para casa com um envelope contendo a preciosa foto da Mieko no coração, sentindo-se frustrado por estar a demorar tanto tempo a chegar.
