Capítulo 52
Quando Ryosaku e o seu pai chegaram ao campo, já lá estava estacionado um grande autocarro.
Quando Ryosaku se separou do pai e se aproximou de um grupo de alunos do segundo ano, as raparigas do grupo que eram amigas de Mieko correram para junto de Ryosaku.
"Takada-san!"
A primeira pessoa a falar com ele foi Lisa Tanaka, a melhor amiga de Mieko, até que Mieko conheceu Ryosaku e começaram a sair juntas.
"Ainda temos algum tempo antes de irmos embora, então porque é que não falas connosco?"
"Hã...? Certo, mas porquê?"
"Ryosaku-san, por favor, fala connosco ali perto do brinquedo da barra horizontal. Está bem?"
Quem o disse foi Mayuko Takeda, a líder do grupo fechado. Era a maior menina da turma.
O grupo era composto por seis pessoas, incluindo três outras crianças e Mieko.
☆ ☆ ☆ ☆ ☆
A área de recreio com barras horizontais que as raparigas tinham designado era um importante memorial onde Ryosaku e Mieko se tornaram amigas no início do verão.
Aquela barra de ferro... Naquele dia, disse Mayuko enquanto esfregava a barra vermelha e enferrujada em que Ryosaku chamou Mieko, que estava pendurada de cabeça para baixo, pela primeira vez.
"Minegishi-san... ela foi-se embora, certo? Ryosaku-san, deves estar a sentir-te sozinha...?"
"Hã...? Ah, sim. Claro, estou sozinha."
"Nós também estamos sozinhas. A Professora Suzuki também já partiu."
Mayuko... fez-lhe lembrar a nostálgica Mieko... e esfregou-lhe suavemente o canto dos olhos.
"Esta Lisa também... Chorava todos os dias depois da Mieko-chan ter sido transferida para outra escola. Parece que a primeira amiga que ela fez nesta escola foi a Mieko-chan... Não é verdade, Lisa?"
"É. É por isso que, depois de a Mieko-chan ter começado a brincar com o Takada-san a meio do jogo, eu sempre tive um ressentimento contra o Takada-san. Porque o Takada-san tirou-me a Mieko-chan."
"Eu também era assim. A Mieko-chan... não era a mais pequena e mais bonita da nossa turma...? Nem sequer falava como eu... Reparem, ela ainda falava de uma forma gira, como uma criança no jardim de infância. Mais do que uma amiga, era mais parecida com a minha irmã mais nova."
As outras três meninas estavam a ouvir e a abanar a cabeça.
"Na verdade, nós... estávamos com muita inveja do Ryosaku-san e da Mieko-chan. Tu e a Mieko-chan pareciam estar a divertir-se imenso. Eu fiquei com inveja."
Quando Mayuko disse isto, Lisa continuou.
"Eu... talvez me tenha apaixonado pelo Takada-san. Desde que a Mieko-chan brincou connosco depois da escola, está à espera do Takada-san, certo? Se possível, Takada-san, já pensei muitas vezes que gostaria que tivesses ido para casa comigo em vez da Mieko-chan. Tenho a certeza que todos aqui sentem o mesmo. Certo...?"
"Pois. Eu também estava com ciúmes da Mieko-chan, mas... não me consegui meter entre o Takada-san e a Mieko-chan."
"É verdade. Sabíamos que não devíamos atrapalhar."
Ryosaku ficou surpreendido.
"Nem acredito que as amigas da Mieko-chan também se preocupam tanto comigo...!"
Diz a Lisa.
"Takada-san... pareces solitário desde que a Mieko-chan se foi embora. Eu... eu não suportava ver o Takada-san tão solitário."
"Foi doloroso para mim também. Mas... não sabíamos o que dizer a Ryosaku-san daquela maneira..."
''Eu queria fazer Ryosaku-san sentir-se melhor, mas... Mieko-chan era a única que conseguia fazer Ryosaku-san sentir-se melhor...''
Ryosaku descobriu que o grupo de Mieko estava preocupado com ele e a vigiá-lo nos bastidores.
☆ ☆ ☆ ☆ ☆
"Bem, Ryosaku-san. Há uma coisa que eu gostaria de te dar."
Mayuko disse isto e tirou um lápis do bolso.
''No último dia em que a Mieko-chan veio à escola, distribuiu lápis por todos nós. Quando me estava a deixar, ela pediu-me: ''Mayuko-chan, dá-o ao Ryosaku-Takada-kun.'' Mas eu estava com tanta preguiça que me esqueci completamente de um item tão importante e guardei-o na gaveta da minha secretária em casa... Peço desculpa.''
Nesse lápis... estava um desenho de um ''foguete espacial'' que parecia algo da ficção científica favorita de Ryosaku.
"Takada-san, gostavas de ficção científica, não gostavas?", disse Mieko-chan. "Ele lê sempre livros ilustrados comigo, mas será que queria mesmo ler livros de ficção científica?", disse ela.
Ryosaku ficou surpreendido.
No primeiro dia chuvoso em que Mieko foi à biblioteca... Ryosaku estava mesmo a ler um livro de ficção científica.
Naquela vez em que Mieko picou Ryosaku no ombro direito, fazendo-o cair da cadeira e cair no chão... a ''ilustração'' escrita no livro de ficção científica em cima da mesa... aquilo... Ela lembrou-se do foguetão da ilustração...!
Para Ryosaku, que tratava tão mal Mieko, ela esforçou-se por encontrar e escolher um lápis com o foguetão de ficção científica favorito de Ryosaku desenhado...!
Ryosaku ficou tocado pelos sentimentos puros de Mieko, que ainda se preocupava consigo próprio numa situação tão difícil... e explodiu em Lágrimas.
"Ei, Ryosaku-san, não chores. A Mieko-chan deve estar triste. Por alguma razão, a Professora Suzuki não nos disse o nome da escola primária para a qual a Mieko-chan foi transferida... mas tenho a certeza... eu... sinto que poderei conhecê-la algum dia. Ryosaku-san... talvez saibas onde está a Mieko-chan...?"
"Não... também não sei. Por vários motivos, nem sequer me pude despedir da Mieko-chan."
"É isso mesmo... Ryosaku-san, hoje é o dia em que poderemos voltar a encontrar a Professora Suzuki... Se chorares tanto assim, a Professora Suzuki vai ralhar contigo, certo?"
"Desculpe. Isso mesmo... Sim, isso mesmo. Bem, vou ficar assim hoje, mas, por favor, cuide de mim."
"Certo, Takada-san, a Professora Mizuki está a chamar-nos, por isso vamos embora agora. Se não nos apressarmos, seremos deixados para trás."
"...Ok, vamos lá!"
E assim, o autocarro turístico que transportava Ryosaku e os alunos do segundo ano começou a mover-se lentamente em direção à Cidade A, na parte sul da câmara municipal, onde o Professor Suzuki dormia tranquilamente e os esperava.