Capítulo 87
O pai de Mieko... em forte contraste com o sorriso gentil e refrescante que tinha mostrado a Ryosaku antes, a sua expressão era tão severa como uma telha do telhado de um demónio.
(...O pai da Mieko-chan tem uma cara assustadora, como uma pessoa completamente diferente. Ouvi dizer que as pessoas que normalmente são caladas podem, de repente, tornar-se pessoas muito assustadoras quando ficam zangadas...)
"Tokiko, larga a tua mão. Afasta-te de Ryosaku-kun agora mesmo!"
"Tu! Sabes sequer o que estás a dizer?! Este homem... é quem empurrou Mieko para as profundezas do desespero... ele é o culpado!"
Com isto, a mãe de Mieko agarrou Ryosaku rudemente pelos colarinhos e até pelos cabelos, e começou a puxá-lo para baixo.
Ryosaku suportou a dor em silêncio, ponderando sobre a maior "expiação" que poderia fazer pelos atos pecaminosos que cometera contra Mieko.
(...Tokiko-san tem razão. Sou um homem cruel e terrível que, enquanto Mieko-chan sofria, era o único que se sentia bem, que bajulava Lisa-chan e Rika-chan, e que secretamente se dava bem com elas... Não me importo que Tokiko-san me bata com toda a sua força. Mesmo que ela cuspisse para cima de mim, eu não me queixaria... Não conseguiria dizer uma palavra.)
"Tokiko... Já chega. Pára com isso!"
Tapa!!
O que mudou a situação tensa foi uma bofetada na lateral da cara dada pelo pai de Mieko à sua mulher, Tokiko.
"Uh, uh... uhhh..."
A mãe de Mieko cai no chão e continua a chorar.
O tempo passa num silêncio opressivo.
"Tokiko, desculpa-me. Fui tão má que te bati..."
Tokiko continuou a chorar, olhando para baixo em silêncio.
"Mas, Tokiko. Não é culpa de Ryosaku-kun que Mieko tenha deixado de ir à escola... que uma reviravolta tão infeliz tenha ocorrido. A primeira escola para a qual Mieko foi transferida... todos ali, incluindo alunos e professores, eram um bando de escória podre e ridícula. Eram apenas crianças, mas eram tão venenosas... Cedo ou tarde, Mieko estava destinada a sofrer tais dificuldades... Devias saber isso muito bem, não é? Foi um erro termos enviado Mieko para aquela escola sem fazer qualquer pesquisa adequada. Aliás, na escola primária seguinte para a qual foi transferida, todos a receberam calorosa e gentilmente desde o início... Foi aquela primeira escola que foi anormal Mieko simplesmente suportou tudo sozinha, em silêncio, para não nos preocupar... sem dizer uma palavra má sobre Ryosaku-kun..."
Ryosaku ainda sentia a dor no couro cabeludo onde tinha sido arrancado e, ao seu lado, Mieko olhava para baixo com uma expressão sombria, e sentiu ainda mais pena dela.
"Anda, Tokiko. Vamos entrar. Tens andado preocupada com muitas coisas ultimamente, e tenho a certeza de que estás cansada. Desculpa por te ter batido mais cedo. Nunca te bati uma única vez, mesmo desde que casámos."
O pai de Mieko disse isto e pegou gentilmente na sua mulher ao colo... e entrou em casa, segurando-a.
"Anda, Mieko. Entra por agora. Ryosaku-kun, desculpa por te ter colocado numa situação tão difícil... Podias esperar aqui um pouco?"
"Sim... Sim. Peço desculpa, Minegishi-san... causei desconforto a toda a sua família..."
"Ryosaku-kun, não te preocupes. Eu disse à Tokiko há pouco que não é assim. Não é culpa tua. E Ryosaku-kun... não me chames "Minegishi-san", trata-me por "Pai". Podes tratar-me por "Pai"...?"
"Pai..."
"Sim. Está bem. Vê bem, desde que a Mieko era pequena e eu a ouvia falar de ti... não sentia que fosses uma terceira pessoa. Sentia que tínhamos "algo em comum". Vou levar um bilhete agora, por isso quero que anotes as informações de contacto do Ryosaku-kun nele. Vou dar-te as minhas também... Lamento que o reencontro de hoje com a Mieko tenha sido arruinado desta forma. Também estou preocupada com a Tokiko... por isso, por agora, por favor, vai para casa. Entrarei em contacto consigo quando a situação acalmar.
Assim, ambas as partes trocaram informações de contacto, e o pai da Mieko afirmou mais uma vez que entraria em contacto com Ryosaku assim que as coisas acalmassem e fechou a porta de correr silenciosamente.
Ryosaku pensou.
("Algo em comum" com o pai da Mieko-chan... Será que era o que a Mieko-chan tinha referido anteriormente sobre o "cheiro" entre ela e o meu pai...?)
Após receber a preciosa mensagem de contacto do pai de Mieko, Ryosaku saiu lentamente de casa de Mieko, empurrando a sua bicicleta... Eventualmente, passou pela loja de Chii Omori, a loja de doces que anteriormente lhe tinha dado informações preciosas sobre Mieko.
Nesse momento, a porta de correr da casa de Mieko abriu-se com estrondo, e Ryosaku sentiu alguém a correr na sua direção com toda a força contra as suas costas.
